segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Tony Bellotto: lambendo livros

Julio Cesar, marido da
Suzana Werner
Ele é marido da Malu Mader e, mesmo assim, ainda encontra tempo pra tocar guitarra e escrever (bons) livros. Resolvi reproduzir aqui um artigo que ele publicou no blog da Cia das Letras, dentre outros motivos porque eu me identifiquei muito com ele (o artigo). Sim, eu cheiro e já lambi livros. Fiz mesmo. E daí? O nariz e meu; a língua é minha...


Lambendo Livros

Tony Bellotto (*)

Impactado pelo hilariante (para dizer o mínimo) “Cheirando livros”, da surpreendente (para dizer o mínimo) e sempre finamente humorada Vanessa Barbara, pego-me não apenas cheirando meus livros, mas lambendo-os (?).

Uma imagem vale por mil cheiradas, e a foto da impagável (para dizer o mínimo) Rachael Morrison cafungando um avantajado tomo azul (que porra de livro é aquele?) me infla de questões comezinhas, diametralmente afastadas das grandes questões literárias, aquelas que devem acometer os grandes escritores. O que são os olhinhos de Rachel na foto? O que acoberta entre as páginas do tomo azul a olfativa e sapeca bibliotecária? Uma linha de cocaína? Uma gota de Chanel número 5? Um filete de aliche? Uma pétala de jasmim? Um bumbum entreaberto?

Ponho-me a cheirar meus livros, aleatoriamente: Memórias alcoólicas, de Jack London, recende a um velho barril de carvalho…acho que o título me sugestionou, tentarei uma prova cega. Fecho os olhos e qual Jorge Luis Borges, tateio minha estante e pego um livro qualquer. Abro-o e cheiro-o (incrível que consiga acertar tantas ênclises de olhos fechados). Cheiro de armário antigo. Abro os olhos: A trilogia de Nova York, de Paul Auster. Isso quer dizer alguma coisa? Além do fato de minha estante estar repleta de autores norte-americanos e de todos os livros cheirarem a madeira? (agora cheiro oNêmesis, de Philip Roth, e sinto cheiro de fórmica).

Não sei quem é esse garoto
Como sou um escritor ainda em fase oral, o passo seguinte é previsível: começo a lamber os livros. Afinal, cheiramos as coisas só para saber se podemos em seguida abocanhá-las, certo? The collected tales and poems of Edgar Allan Poe (mais um norte-americano!) tem gosto de hóstia. Hum, faz sentido. Paratii, de Amyr Klink (enfim um brasileiro!), ao contrário do que eu esperava, não tem gosto de mar. Nem de areia. Tem gosto de…deixa eu ver…papel. Agora vou lamber Nazi literature in the Americas, tradução norte-americana do romance hilariante (para dizer o mínimo) de Bolaño. Fico por aqui. Confessem, vocês também estão lambendo livros…

(*) Tony Bellotto, além de escritor, é compositor e guitarrista da banda de rock Titãs. Seu livro mais recente, No buraco, foi lançado pela Companhia das Letras em setembro de 2010. Ah, já ia me esquecendo, nas horas vagas, é marido da Malu Mader.

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