terça-feira, 15 de novembro de 2011

As religiões e a propaganda

Padroeiro de Duda Mendonça
Religiões no nascimento da propaganda



Marcelo Castro(*)

Para se compreender a gênese do processo de propaganda e contrapropaganda é bom se entender um pouco da formação do novo testamento. Os judeus provavelmente tenham sido o povo que primeiro usaram o espírito da ideia de que "a propaganda é a alma do negócio".

A bíblia, ainda hoje, é a peça de propaganda de maior sucesso da história da humanidade, nem mesmo Hollywood foi tão eficaz em disseminar os valores, costumes e moral de um povo.

No estudo deste processo é preciso voltar ao século primeiro depois de cristo, uma época em que o poder militar do império romano sufocava todo mundo ocidental: oriente baixo (Síria e Turquia), gauleses, britânicos, gregos, egipicios e judeus. Aos romanos não bastava a conquista, era necessário submeter e humilhar os conquistados. Emblemático desta situação eram as estátuas erigidas pelos romanos nos centros de suas conquistas, como a clássica estátua de um poderoso guerreiro, representando Roma, submetendo uma fêmea frágil que representava o conquistado. Diante do avassalador poderio militar romano restava aos conquistados apenas o lento processo de propaganda anti-romana, e, provavelmente, os melhores propagandistas da época foram os judeus.
A maior peça de propaganda anti-romana foi o livro da revelação ou o livro do apocalipse de João (não o apóstolo) (**). No ano de 66 d.c. houve uma sublevação na Judeia que foi reprimida com enorme crueldade e violência pelas tropas do imperador Nero. Entre os poucos judeus que escaparam do massacre estava o profeta João que se exilou no oriente baixo, provavelmente Turquia. Em conjunto com turcos, gregos e sírios, João iniciou a criação de documentos apócrifos que tinham como motivação a propaganda anti-romana.

O apocalipse surge de uma ideia radical. Os livros da revelação tinham origem egípcia e babilônica e a finalidade era fundamentar o divino na nova era, João, o profeta judeu, admite a impossibilidade dos povos conquistados em suplantar Roma no plano militar e passa a pregar o fim do mundo e o surgimento do reino de Cristo, numa alusão à queda do império romano. Simbolismos e arquétipos persistentes até os dias de hoje, como o número 666 o da "besta", tem origem no apocalipse e são alusão ao ano de 66 d.c. e a "besta" não seria outro senão Nero. Rogar pragas já fazia muito sucesso naquela época e há passagens particularmente terríveis no Apocalipse que dão uma noção da angústia e da vontade de vingança dos povos conquistados, como a passagem onde João anuncia o retorno de Cristo que acorrentaria a "besta" (Nero) e o aprisionaria num lago de angústias e aflições por milhares de anos.

O sucesso dos panfletos apócrifos é tamanho que por volta de 312 d.c. o imperador Constantino deixa de confrontar o cristianismo diretamente e inventa a contrapropaganda.

Assume o cristianismo como religião oficial do império, cria a igreja católica com sede em Roma. A igreja católica passa, então, a ser o órgão oficial de censura aos panfletos apócrifos. Com a edição de seus canônes, a igreja católica determina quais documentos apócrifos podem ser publicados. Não seria exagero imaginar que o novo testamento não passa de uma resenha dos documentos autorizados pelo império romano através da sua igreja, já que nem mesmo os próprios judeus jamais assumiram o cristianismo e a bíblia hebraica ainda é uma peça sectária do ortodoxismo judeu .

Aspectos deste processo de propaganda e contraproganda podem ser reconhecidos na mídia contemporânea. Um estudo detalhado tem sido realizado pela professora de religião da universidade de Priceton, Elaine Pagels. Neste site (em inglês), Elaine oferece uma panorâmica do livro da revelação do profeta João.

Copicolado do Blog do Saraiva.

(*) ainda não consegui descobrir quem é Marcelo Castro. Quem souber, por favor, me conte.

(**) Quanto à controvérsia de quem seria o autor do Apocalipse leia AQUI.

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