quinta-feira, 6 de outubro de 2011

EUA protege terroristas em seu território

Artigo publicado em ADITAL Notícias da América Latina e Caribe.

Fala sobre o livro de Fernando Moraes "Os Últimos Soldados da Guerra Fria" e outros assuntos desagradáveis para os liberais brasileiros.

A luta cubana contra o terrorismo de Estado

Nildo Ouriques(*)

O primeiro livro sobre Cuba que eu li foi A Ilha, de Fernando Morais, no final da década de setenta. Em perspectiva, aquele livrinho –que na época cumpriu extraordinário papel educativo– hoje seria desnecessário. O acesso a internet, a possibilidade de viajar diretamente a Havana, a presença de intelectuais e dirigentes políticos cubanos em eventos no Brasil, permite conhecimento mais preciso sobre um país que durante nossa longa ditadura –21 anos– seria impossível. A Ilha, na verdade, uma espécie de livro-reportagem, introduzia o leitor no conhecimento das reformas iniciadas pela Revolução Cubana, este fenômeno histórico que é um verdadeiro divisor de águas na política e na consciência mundial e latino-americana. Atualmente, a "imprensa livre” segue em uníssono a campanha contra o sistema político cubano sem mudar um átomo daquele enfoque típico do período chamado de "guerra fria”. Exceto pelo fato de que qualquer pessoa pode ler na edição dominical do Estadão os textos de Yaomy Sánchez, a "dissidente” que publica artigos com todo tipo de críticas ao sistema político cubano (falsas e/ou verdadeiras), um verdadeiro luxo que nenhum proscrito pela ditadura brasileira jamais teve.

Nestes dias, li de "um tirón” o novo livro de Fernando Morais. À exemplo de A Ilha, do qual minha memória guarda apenas uma cálida recordação, "Os últimos soldados da guerra fria. A história dos agentes secretos infiltrados por Cuba em organizações de extrema direita nos Estados Unidos” é também um livro reportagem, embora de muito maior fôlego, repleto de informação –e pesquisa– acesso privilegiado a documentos de Estado, pitadas de novela, estilo direto e agradável. E mais importante, é também um livro de análise das relações internacionais (sobre o poder dos estados nacionais), sobre o terrorismo de estado e as formas de combatê-lo.

Como de costume, "Os últimos soldados da guerra fria” foi recebido pela crítica brasileira com ceticismo e desaprovação. O jornal Folha de São Paulo sugeriu que se tratava de um livro débil e indicou como prova cabal duas ou três informações errôneas, como se fosse possível realizar um trabalho relativamente longo e importante de pesquisa sem erros. Eu mesmo encontrei que Luis Miguel, o cantor de boleros mexicanos nasceu, segundo Morais, em Porto Rico. Apesar de errônea, qual a importância desta informação para o argumento central da trama? Há, em quase todos os livros sobre América Latina, grandes e pequenos erros, especialmente quando se trata de relatos que envolvem muitos personagens e longos períodos históricos. Recordo a respeito que "A utopia desarmada”, de Jorge Catañeda, foi um livro aclamado com enorme entusiasmo pelo jornalismo nacional e contém –este sim!– graves erros históricos e não poucas falsificações que comprometem derradeiramente seu argumento central. O livro não poderia ser mais desastroso e a crítica recebeu bastante bem, mas obviamente fazia parte da campanha mundial contra o radicalismo de esquerda na América Latina.

(...)

(*) Prof. de Economía na UFSC e Presidente do Instituto de Estudos Latino-americanos/IELA


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