Um Ateu Na Missa
A tortura dominical
de Paulo começava cedo. Sua mãe o acordava tão logo ela própria se levantava,
pois sabia que acordar o filho não era uma tarefa fácil e não saia do lado de
sua cama até que ele estivesse totalmente de pé, pois também sabia que se desse
os cinco minutinhos que ele sempre suplicava, a batalha se tornaria ainda pior.
Sabendo disso, Paulo nunca oferecia muita resistência, pedia mais um tempinho
por pura força do hábito, mas se contentava em praguejar mentalmente enquanto
tomava banho, café da manhã, se vestia e saia de casa acompanhando sua mãe para
a missa na igreja do bairro.
Ela não sabia que
ele era ateu, simplesmente achava que como todo adolescente ele tinha preguiça
de acordar cedo. Ele nunca lhe revelou esse fato por saber o quanto isso a
decepcionaria e, pior ainda, por saber que ela desempenharia uma verdadeira
cruzada para convertê-lo. Conhecia a mãe e sabia o quanto era devota e não ia
tolerar a possibilidade de seu próprio filho seguisse aquilo que ela acreditava
ser o caminho para a danação eterna. Assim, todo domingo ele a acompanhava
silenciosa e obedientemente.
Enquanto a costa
era aos poucos destroçada pelo banco de madeira, Paulo sempre observava o
ambiente. Via as idosas chegando, algumas pessoas vinham junto de toda a família,
as crianças pequenas corriam e brincavam, deixando Paulo com inveja e saudades
de quando podia fazer isso, era melhor do que fingir que leva toda aquela
palhaçada a sério. Algumas músicas começavam a ser cantadas enquanto o padre se
preparava pra sua entrada, o ritmo até que era legal, ele tinha que admitir. O
que já tirava um pouco do sono remanescente.
Então tudo
começava. Orações, leituras, mais músicas. Levantar, sentar, levantar de novo,
sentar de novo, ajoelhar, levantar. Olhava para o relógio de hora em hora, mas
só cinco minutos haviam passado e se sentia traído pelo tempo. Ia passando o
dedo pelo panfleto que dão para acompanhar a missa (não importa qual o nome
disso, pensava ele) e cada etapa passada era um alento.
2 comentários:
Márcio, você não vai terminar o texto? Eu estava gostando e... Abs. Lima.
Lima, já postei a segunda parte. Gosto de colocar aos poucos pra não assustar.
Postar um comentário