segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Portugal é como o Rio de Janeiro governado por FHC

E, pelo que vemos no texto a seguir, um Rio de Janeiro sem petróleo sem a menor perspectiva. Um povo conhecido pela sua aparência melancólica e que parece com razão para estar assim. Triste.

Portugal: Bom Natal e
 Pior Ano Novo!

Francisco Carlos Teixeira (*)

O povo português não comemorou este Natal. Não houve fogos ou decoração natalina no Rossio ou no Comércio. Não havia muito a comemorar, talvez apenas a certeza, dita por todos, que o ano de 2012 será bem pior. O desemprego atingiu quase 11% dos poucos mais de cinco milhões de trabalhadores. Entre os jovens, o índice atinge quase 25%.

Lisboa – É quase impossível andar pelas ruas de Lisboa, tomar um taxi ou sentar-se em uma de suas muitas “esplanadas” sem que o assunto da crise econômica se faça presente. É um trauma nacional. Toda uma nação – e uma nação antiga, valorosa e trabalhadora! – foi colocada diante de uma realidade chocante: os homens, e partidos, responsáveis por sua administração não foram capazes de liderar o país em direção a uma vida melhor. Pior do que isso: não foram capazes se quer de conservar as conquistas e as garantias sociais que a geração passada construiu na
sua luta contra a ditadura salazarista.

Portugal hoje

Portugal é um pequeno país, nós sabemos. Possui pouco mais de dez milhões de habitantes, em um território de 92 mil quilômetros quadrados, o que é apenas duas vezes o tamanho do estado do Rio de Janeiro (que possui, entretanto 15 milhões de habitantes). Portugal, por sua vez, possui um PIB de 247 bilhões de dólares, enquanto o PIB do Rio de Janeiro é de cerca de 200 bilhões de dólares, com chance de chegar a um trilhão em 2025.

Portugal, em suas terras limitadas pelo mar e por Espanha, atravessadas por montanhas de pedras, com um chão avaro, parco, para os trabalhos
agrícolas, não é uma grande economia. Somente os vinhedos, pequenos, artesanais e de grande excelência, sobrevivem ao lado de algumas oliveiras, limões, laranjas e alecrins. Ao sul, as charnecas são secas, áridas, como Fernando Namora já nos descreveu. Igual ao Rio somente o turismo.

É impossível andar pelas ruas limpas e bem sinalizadas do país, sem deparar com grupos de turistas europeus – o que ainda mantém vivos cafés e tascas do Bairro Alto, do Rossio e da Ladeira da Alfama.

Entretanto ao contrário do Rio, falta a Portugal perspectivas. Não há uma vocação clara, nem mesmo um projeto que una partidos, lideranças e a sociedade. Ao contrário da Alemanha e Inglaterra, que declaram o fim dos experimentos multiculturalistas e multiétnicos, Portugal é uma nação diversa em sua composição, com uma larga população negra – oriunda das ex-colônias ou nascida aqui – além de indianos e chineses étnicos, e é claro, um bom número de brasileiros. Todos vivem bom convívio, melhor do que qualquer outro país da Europa. Contudo, tamanha diversidade não ajudou a criar um projeto de nação, e de futuro, capaz de tirar o país do marasmo.

Não há grandes indústrias, o comércio é quase todo local, e a agricultura não responde ao mínimo necessário para o país. O desemprego atingiu quase 11% dos poucos mais de cinco milhões de trabalhadores portugueses, mas entre os jovens – incluindo os jovens formados em escolas técnicas e universidades – o índice atinge quase 25%! Mais da metade dos 620 mil desempregados do país são jovens. As perspectivas para estes de encontrar um emprego em seu rama de especialização em seu próprio país são tremendamente baixas.

Uma terra que envelhece!

Portugal é um país velho de história(s). Aqui estão os túmulos megalíticos de Braga e sua Sé; as ruínas romanas de Évora, os fundamentos árabes do castelo de São Jorge em Lisboa. Mas, acima de tudo, Portugal envelhece em sua gente. Nas ruas poucas crianças são vistas e aldeias inteiras são povoadas por velhos. A inexistência de empregos, um mercado de trabalho pouco flexível e imaginativo, afugentou os jovens, que migram para toda a Europa, Estados Unidos e Brasil. 

As ruínas romanas de Évora nunca
 simbolizaram tão bem o presente

Alguns países, no interior da União Européia, se aproveitam disso. No início de 2011, já frente às terríveis exigências feitas pela U.E. aos portugueses, a chanceler alemã Angela Merkel ofereceu condições favoráveis para a migração de jovens de nível universitário para o país. Ou seja, Portugal educa e forma, paga os gastos e a Alemanha recebe bons técnicos sem qualquer investimento, enquanto o país envelhece!

Hoje já vivem no exterior mais de um milhão de portugueses e diariamente centenas de outros pedem visto de residência em outro país. O primeiro-ministro português Pedro Passos Coelho (no poder desde junho de 2011), da coalizão direitista do PSD/CDS, em recente discurso aconselhou simplesmente os jovens a migrarem, abandonando Portugal. Talvez tenha sido o único chefe de governo do mundo que, em vez de criar empregos, mandou seus concidadãos embora do país! 

(...)

(*) Professor da UFRJ

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