Luiz Pinguelli Rosa é físico e prefessor |
Como o senhor vê a produção de energia elétrica no Brasil do ponto de vista dos impactos?
Há diferentes impactos. Cada maneira de gerar energia trás um problema. A maior parte da geração elétrica brasileira é hidrelétrica. O problema que ela traz é a necessidade de mobilizar território para a localização das barragens. Antes tínhamos reservatórios enormes de água e mais recentemente menores. Mas sempre tem problema. Nunca é totalmente isenta de impacto desse ponto de vista porque sempre altera cursos d´água. Se você pensa em termos da geração termelétrica, que é a segunda no Brasil, com combustíveis fósseis, petróleo, gás natural e um pouco de carvão mineral, tem a poluição atmosférica, que atinge a saúde das pessoas e também contribui mais para o aquecimento do Planeta, com o efeito estufa. Nuclear, temos poucas, mas temos o risco da radioatividade, ressaltado agora no acidente de Fukushima, no Japão. As renováveis ou alternativas – a principal delas no Brasil para eletricidade é o bagaço de cana, usado na geração de energia nas usinas de álcool – também tem impactos. A própria produção da cana-de-açúcar toma uma área que alguns dizem fazer falta na produção de alimentos. A eólica, mais nova, que cresce bastante, tem problemas também de utilização de território, atinge aves, tem o problema estético, do ruído. Enfim, cada uma tem os seus problemas.
Como o senhor acredita que o governo deve planejar os investimentos para garantir o fornecimento de energia minimizando possíveis danos?
A tendência do Brasil ainda é a hidrelétrica porque ainda há um potencial enorme não usado. Há um órgão, criado no primeiro governo Lula, chamado Empresa de Pesquisa Energética, a EPE, que procura fazer o balanço de todas as vantagens e desvantagens e prever o que é necessário fazer para atender o crescimento de demanda que tem ocorrido. É bom lembrar que, com essa melhoria de renda de uma parte mais pobre da população tem havido crescimento significativo no consumo de energia.
Falando em hidreletricidade, como o senhor disse, temos os problemas de área. Neste sentido, o que o senhor tem a dizer sobre Belo Monte?
Tem pessoas que têm uma convicção contra qualquer hidrelétrica de proporção maior. E isso é uma opinião, é uma visão. Então não há o que discutir. Entretanto, é um projeto razoável. Não inunda quase nada: 500 quilômetros quadrados ao longo do curso de um rio. Evita a remoção de populações indígenas. Não há nenhuma pessoa afetada. E se compromete em melhorar as condições de vida da população que vive em condições muito precárias, na periferia urbana naquela área da usina. Enfim, foi planejada pela EPE dentro de padrões. A tarifa foi considerada bastante razoável. O valor da energia foi calculado na casa dos R$ 60,00 a R$ 70,00 o megawatt/hora. As termoelétricas estão na faixa de R$ 150,00. As eólicas alcançaram agora R$ 100,00. Então é razoável como um projeto hidrelétrico.
O que o senhor tem a dizer sobre o fator de capacidade?
O fator de capacidade é baixo, mas isso é comum nas fontes renováveis todas, inclusive nas eólicas, que têm fator de capacidade baixo. Você não alcança a potência instalada porque depende da disponibilidade de água (ou de vento, na eólica). E não vai haver reservatório para guardar água. Com isso esse fator de capacidade está na faixa de 42%. Nas hidrelétricas brasileiras em geral ele fica um pouco acima de 50%. É por isso que a comparação deve ser de 42% para 50% porque 100% é impossível. Não há nenhuma usina com fator de capacidade de 100%. E isso vale para todas as renováveis. No caso da solar é muito menor.
Leia toda a entrevista em Blog Belo Monte.
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